segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Silêncio e saúde

“Sempre se atribuiu que a causa de doenças crônicas, sobretudo as do coração, seriam apenas envelhecimento e fatores de risco como hipertensão, obesidade, tabagismo ou sedentarismo. Mas hoje se sabe que outras questões também influenciam. Entre elas, a poluição sonora”, explica Marcus Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

É que nosso cérebro está sempre atento a estímulos do ambiente e fica de sobreguarda para uma eventual ameaça. Ruídos altos são interpretados como perigo. Em resposta, o sistema nervoso central envia uma mensagem à glândula renal para produzir três hormônios muito úteis em situações nas quais, teoricamente, você corre risco de vida: adrenalina, noradrenalina e cortisol. Conhecidos como “hormônios do estresse”, eles estimulam a constrição dos vasos sanguíneos, o que eleva a pressão arterial e estimula a circulação sanguínea.

Adrenalina e noradrenalina servem para deixar o organismo pronto para um combate corpo a corpo. Juntos, eles levam o sangue das extremidades do corpo para coração e grandes vasos do organismo, que alimentam o corpo todo. Como consequência, a pressão arterial sobe, os batimentos cardíacos aceleram, as mãos esfriam e os lábios secam. O cortisol também eleva a pressão arterial, mas retém sal e água no corpo, a fim de ficarmos prontos para um período de privação de líquidos.

O organismo detém mecanismos para suportar, eventualmente, tais efeitos. No entanto, se cortisol, adrenalina e noradrenalina atuam todos os dias, o corpo entende que constantemente estamos ameaçados por algum perigo. “A elevação da pressão, mesmo que não atinja o necessário para o diagnóstico de hipertensão, causa danos vasculares, porque o sangue circula dentro do vaso sob pressão aumentada. Isso lesiona o endotélio, a camada interna dos vasos”, explica o cardiologista Marcus Bolívar Malachias. Soma-se a isso os efeitos na mente, como ansiedade, estresse e agitação - tudo por causa do barulho excessivo.

Inclusive, a OMS publicou, em 2011, um relatório apontando que 3 mil mortes por doença do coração daquele ano, na Europa Ocidental, ocorreram em decorrência do ruído em excesso.

O silêncio, além de ser amigo dos introspectivos, também beneficia coração e respiração. Uma pesquisa feita por médicos da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e na Universidade de Pávia, na Itália, publicada em 2006 no conceituado periódico Heart, mostrou que o silêncio melhora o funcionamento cardíaco e respiratório.

A ideia inicial era investigar os efeitos de diferentes tipos de músicas nos sistemas cardiovascular e respiratório. Médicos pegaram 24 voluntários - metade músicos profissionais e a outra metade leigos - e monitoraram os cérebros deles enquanto ouviam diferentes estilos de música ou faziam absoluto silêncio. Nos períodos de música rápida, aumentaram os indicadores de pressão arterial, ritmo cardíaco, respiração e velocidade de uma artéria cerebral. Mas, no silêncio, todos esses indicadores caíram, bem mais do que em músicas lentas. Ou seja, no silêncio, os voluntários ficaram mais calmos e relaxados.

“Podemos dizer que ele é uma boa receita médica”, diz Marcus Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Não é à toa que empresas de tecnologia buscam criar aparelhos que isolam sons externos, na promessa de trazer alguma paz de espírito para moradores de cidades grandes.

Mas se engana quem pensa que o cérebro fica quieto durante o silêncio. Na verdade, uma região específica fica ativa: a rede de modo padrão, que envolve várias áreas do órgão. Quando entramos em um profundo estado de imersão, típico de quando visualizamos memórias enquanto estamos de olhos abertos, essa rede fica em funcionamento intenso. “Isso ajuda no processamento de memória, mas exige silêncio e introspecção”, diz Marcio Baltazhar, neurologista coordenador do departamento científico de Neurologia Cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Outro efeito é a neurogênese, que é a produção de novos neurônios. Uma pesquisa publicada em 2013 na revista Brain Structure and Function estudou o efeito do silêncio em ratos. Os resultados mostraram que as cobaias produziram mais neurônios, algo essencial para combater o mal de Alzheimer.

Mente prudente. A mais do que almejada paz de espírito é outra consequência do silêncio. Ele prepara o terreno para momentos de introspecção. Afinal, é difícil você manter o foco em si mesmo se o ambiente oferece dezenas de estímulos ao seu cérebro. Sobretudo quanto falamos da aprendizagem. Ela exige o isolamento para dirigirmos nosso foco aos livros, sem dispersões.

Em: https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-estar,silencio-faz-bem-a-saude,10000083607

A modernidade está tirando nossos momentos com nós mesmos, agora apesar de sozinhos vivemos conectados com milhares de pessoas, por isso um dos maus do século é a ANSIEDADE, as pessoas precisam desligar

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