sexta-feira, 31 de julho de 2020

Terapia de arrumar

A cama desarrumada, os CDs espalhados, livros abertos, a famosa poltrona que já não serve para sentar e sim jogar a roupa usada. O guarda-roupa com portas abertas, os tênis espalhados pelo chão, a toalha molhada pendurada na porta, a gaveta das meias que já não tem os pares corretos. Os cadernos rabiscados, as canetas sem tampas, a lixeira transbordando, o violão desafinado, a mesa empoeirada. Cenário caótico e o sentimento de sufoco, de pouco espaço, de preguiça e desgaste, a vontade de procrastinar a limpeza.
Cenas como essa se fazem comum durante vários períodos de nossas vidas. Às vezes duram alguns dias, outras, semanas. Podem se estender por meses ou prevalecer por uma eternidade. E é exatamente nesse período que surge a famosa bola de neve do deixar para depois, do “amanhã eu arrumo”, do “hoje estou exausto, vou jogar ali para o canto”, da poeira embaixo do tapete. E isso parece acontecer justamente quando estamos mais atrapalhados, seja com a nossa rotina ou com um incômodo em uma relação pessoal.
As desculpas são inúmeras: “Por que não arrumei quanto estava com tempo?”, “Vou deixar para quando eu tiver energia”. Agora pare e repare na frequência em que seu quarto, sala ou até mesmo a mesa de trabalho, ficam mais bagunçadas a medida que estamos com a mente agitada. Seria uma coincidência ou o nosso estado de espírito tem total relação com a forma como organizamos as coisas do nosso dia-a-dia?
O local em que vivemos e/ou estamos representa simbolicamente como estamos nos sentindo. Portas e janelas fechadas em um dia ensolarado podem falar muito sobre seu humor. Aquele domingo de folga, por exemplo, pode ser representado pela louça na pia, pelo copo sujo do lado da cabeceira e a cama desarrumada. Ou as folhas bagunçadas na mesa do escritório que nos dizem o quanto de trabalho temos pela frente. 

É como se pudéssemos ver como está nossa cabeça, numa espécie de espelho ou projeção holográfica.

É como se cada gaveta significasse uma relação, uma tarefa, um pouco de nós.
Usando dessa metáfora mente-quarto, gostaria de convidar o leitor (e me convido junto) a navegar pelo seu quarto mental. Abrir cada porta do guarda-roupa e vestir todos os casacos, sem jogá-los em cima da cama. Abrir todas as gavetas, descobri-las por dentro. Vestir as meias, mesmo com os pés trocados, calçar cada sapato e sentir onde ele aperta. Tirar as camisas, camisetas, calças do lugar, botar tudo para o lado de fora. Revisar cada canto do armário até que ele esteja totalmente vazio. Olhar para o acúmulo de roupas espalhadas pelo quarto e perceber a quantidade de coisas úteis e inúteis que guardamos dentro do nosso próprio armário. Faça o mesmo com a escrivaninha, cabeceira, cama e mesa. Afinal, para arrumar precisamos desarrumar!
Olhe para seu quarto agora, guarda-roupas vazio, roupas no chão, escrivaninha revirada, cama bagunçada. 

O que você mudaria? 

Olhe e olhe de novo. 

Encare. Analise. Tire fora o que não vai mais usar. O tênis que machuca, a camisa que não serve ou o caderno todo rabiscado. Lembre-se que eles representam as relações que já passaram do prazo de validade e hoje só ocupam espaço no quarto da nossa mente. Aquele CD velho está arranhado, não vai tocar como antigamente, como a calça que deixou de servir, pois está curta ou apertada. Assim como as roupas, é a nossa vida: quanta coisa não nos cabe mais, mas insistimos em guarda-las? Olhe de novo. A faxina é minuciosa.
Terminando de descartar o que não vamos utilizar, chega a hora de colocar as coisas nos seus lugares. As meias voltam com seus pares para gaveta, os casacos na ordem de sua preferência, os tênis por cores, CDs em ordem alfabética. Hora de, quem sabe, mudar a cama de lugar, inverter algumas ordens, se redescobrir. Hora de se (re)conhecer como novo, percebendo cada mudança. É hora de recomeçar.
Terminou essa jornada mental? Façamos ela no quarto físico e assim recomeçamos o processo. Um exercício interno que nos movimenta e nos conduz para a mudança externa. O raio de energia que nos motiva a se refazer. Coloca aquela música alta daquele seu artista preferido, veste o avental, separa a vassoura, a pá e o saco de lixo e sinta o prazer de fazer a faxina interna e externa do movimento mental. Permita-se limpar, jogar fora o que te empaca e dar mais espaço ao que tem necessidade. Passe aquela cera. Brilhe. Traga visitas. Exiba o perfume das flores. A partir daí, (re)nasce um novo ser. Desfrute!

Santiago Silveira

https://medium.com/@santiagosilveira/a-arte-e-a-terapia-de-arrumar-o-quarto-e-a-mente-aad3b5efce31

Depois de trabalhar um pouco o desapego... a leveza de ver o ambiente mais arejado, deixa a nossa mente mais leve e cheia de criatividade... tente e comprove, começar é chato... mas conforme percebes como tens tranqueiras inúteis..... verás quem muito mais espaço na sua vida.

Gratidão por essa pratica incrivel

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